Por Jô Pinheiro: Precisa-se de controle de qualidade na política




Ao assistir os depoimentos proferidos pelos parlamentares brasileiros no último domingo, 17 de abril por ocasião da votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff a nação teve oportunidade de conferir a qualidade dos nossos políticos traduzida pelos deputados federais que protagonizaram aquela votação, os quais além de serem hoje legisladores federais, em sua grande maioria já ocuparam outros cargos públicos em estados e municípios.
A expectativa que se tinha antes da seção que autorizaria ou não a continuação do processo de impedimento do mandado da presidenta era de que cada parlamentar se expressasse de forma objetiva e séria diante da importância do ato e do grande número de votantes que chegou a mais de quinhentas pessoas, mas também era óbvio que se tratando de um marco histórico de tamanha notoriedade seria perdoável se alguém se estendesse por alguns segundos para fundamentar sua decisão e ao mesmo tempo mostrar aos seus eleitores, ao Brasil que lhes assistiam naquela ocasião as suas qualidades enquanto representantes de uma fatia da imensa massa de mais de duzentos milhões de habitantes, porém ocorreu que grande parte dos membros daquela seção extraordinária usaram seu tempo e foram além do necessário disparando palavreados e gestos num diversificado repertório sem nexo para a ocasião, demonstrando visível descompromisso com o foco da discussão em questão que era o afastamento de uma presidenta da república, decisão esta que vinha acompanhada de vários agravantes já debatidos anteriormente de forma exaustiva em toda sociedade como as crises que vem desestruturando o país e seus efeitos na vidadas pessoas, sendo assim entende-se que a classe política do alto escalão federal deveria está mais preocupada que qualquer outro seguimento.
A anarquia com a nobre causa bem que poderia ser perceptível quando o deputado Paulo Pereira da Silva organizou um bolão de apostas dias antes da seção, anunciando uma avacalhação premeditada com a importante ferramenta da democracia que é o instituto do impedimento, o descaso se consolidou ao apreciarmos na hora do voto as inúteis dedicatórias de feliz aniversário e outras variadas congratulações feitas por grande parte dos deputados a parentes e amigos como se aquele espaço fosse um gracejado parque de diversões, entre as “espetaculares” aberrações não posso deixar de destacar a deputada mineira que dedicou o seu voto, sim pela cassação de Dilma ao seu marido prefeito de Montes Claros como um exemplo de que o Brasil tem jeito, ironicamente no dia seguinte à imprensa o mostrou preso por corrupção, não menos inaceitável, Jair Bolsonaro obsedado por holofotes abriu a sua fala fazendo elogios a Eduardo Cunha presidente da Câmara, processado pela Lava Jato e contestado naquela ocasião por vários deputados, devido as inúmeras acusações lhes pesam por crimes de corrupção e mesmo assim era o presidente da mesa, mas Bolsonaro foi além: pela memória do ilustre coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma, disse o facínora deputado ao anunciar o seu voto, fazendo homenagem ao carrasco morto em outubro de 2015, torturador da ditadura militar do Brasil, ex-chefe do DOI-CODI, centro de repressão onde Dilma foi presa, torturada, onde jornalistas, estudantes e manifestantes contra o regime foram também torturados e mortos sob o comando do tirano coronel, como se não tão rasteiro fosse o nível do tal debate, nos bastidores da câmara, o deputado Jean Willys, cuspiu o rosto de Bolsonaro e afirmou em entrevista posterior que o faria novamente quantas vezes quisesse.
Lembremos que talvez tudo isso seja menos grave que ver jornais de expressividade mundial como, Washington Post, The New York Times e muitos outros mundo a fora estampando em suas capas manchetes como: ‘presidenta do Brasil em processo de cassação por legisladores corruptos’, na verdade todos nós sabemos que é isso mesmo que está acontecendo, mas é o que temos, diante da situação vigente lembrei-me de um sábio amigo que certa vez me disse que as vezes temos que fazer uso do esgoto para expurgar dejetos fecais e assim limparmos o que precisa ser limpo, a grosseira comparação faz sentido nesse momento? Talvez sim.
O fato é que precisamos urgentemente de controle de qualidade na política deste país, deveríamos testar os nossos políticos por força de lei antes de elege-los, só liberar para concorrer a cargos públicos homens e mulheres com histórico exemplar e digo-lhes que ainda existem, num colegiado de parlamentares onde decisões importantes precisem ser tomadas, proibir a inclusão de membros nas comissões que estejam sob suspeita de ilegalidades, muito menos permitir que participe quem está sob investigação ou respondendo algum processo, isso é possível com a nossa fiscalização, com nossa vigilância, as reformas nas leis políticas são urgentes, e mais urgente ainda é a nossa consciência na hora de votar e de cobrar de quem nos representa, lembre-se disso nas próximas eleições, o Brasil tem jeito, grandes nações se reergueram de forma triunfal após terríveis derrotas, o Japão que o diga.

Jô Pinheiro
20/04/16

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