Morre aos 75 anos, cantor Jair Rodrigues

O cantor Jair Rodrigues morreu nesta quinta-feira, aos 75 anos. O músico foi encontrado na sauna em sua casa, em Cotia, na grande São Paulo, às 10h desta manhã. A causa da morte ainda não foi anunciada. O músico ganhou o Brasil ao interpretar a hoje clássica "Disparada", de Geraldo Vandré e Theo de Barros, vencedora do IIº Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, junto com "A banda", de Chico Buarque.

A morte do músico pegou amigos e fãs de surpresa. No último dia 5 de abril, ele fez um show com lotação esgotada no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, e estava com outras apresentações agendadas.

Engraxate e mecânico

Jair Rodrigues de Oliveira nasceu em Igarapava, interior de São Paulo, em 6 de fevereiro de 1939. Depois de passar a infância e adolescência cantando em corais de igreja, começou a carreira profissional como crooner de casas noturnas, em 1957. No ano seguinte, participou de seu primeiro concurso de calouros.

Na década de 1960, mudou-se para a capital de São Paulo, onde trabalhou como engraxate, mecânico, servente de pedreiro e ajudante de alfaiate, enquanto tentava se estabelecer na música. Começou a se destacar cantando sambas.

Seu primeiro sucesso foi "Deixa isso pra lá", lançada em seu segundo disco, "Vou de samba com você", de 1964. Considerada a precursora do rap nacional, por conta do refrão falado, foi eternizada pela clássica coreografia que o cantor fazia com as mãos.

Em 1965, Jair substituiu Baden Powell num show no Teatro Paramount, em São Paulo. Foi quando dividiu o palco pela primeira vez com a também estreante Elis Regina, que viria ser sua parceira profissional. Juntos, lançaram o disco "Dois na bossa". O sucesso do álbum levou os dois a formar a dupla Jair e Elis, que assumiram o programa “O fino da bossa”, da TV Record.

O canto poderoso e a simpatia garantiram sua popularidade nos anos seguintes, gravando discos e participando de festivais, além de fazer shows em países como Portugal, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos e Japão. Com formação de crooner, versátil, passou por diversos gêneros, sem nunca se distanciar do samba, em álbuns como "Jair de todos os sambas" (1969), "Festa para um rei negro" (1971) e "Antologia da seresta" (1979), "Lamento sertanejo" (1991) e "A nova bossa" (2004).

Tim Maia costumava dizer que Jair Rodrigues era o "careta mais maluco que já viu". O crítico e pesquisador de música Ricardo Cravo Albim contou, em entrevista à "Globonews", que o cantor tinha o apelido "Cachorrão", por ser um amigo muito fiel.

Em 2006, o artista foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música, numa festa no Teatro Municipal. Na noite, foram lembrados seus sucessos, cantados por duplas como Germano Mathias com Roberta Sá e Alcione com Diogo Nogueira. O tributo teve ainda "Zigue zague" com Rappin' Hood - com quem Jair gravara "Disparada" em versão rap no ano anterior - e "Deixa isso pra lá" em ritmo de tamborzão com Lulu Santos.

O último trabalho de Jair foram os CDs "Samba mesmo", volumes 1 e 2,lançados em março de 2014. No projeto, idealizado pelo filho Jair Oliveira, ele registra 26 canções que nunca tinha gravado, como "Fita amarela" e "No rancho fundo", além de apresentar três inéditas. Na mesma época, participou do DVD comemorativo dos 30 anos de carreira de seu filho.

Preocupado em contar sua história, Jair estava preparando sua biografia, com a ajuda dos filhos, os também músicos Jair(zinho) e Luciana Mello. Conforme contou para o
 "Diário de SP" em julho de 2013, ele descreveria no livro sua relação de amizade com Roberto Carlos nos anos 1960 e as baladas que frequentava quando solteiro, com figuras como Raul Seixas e Wando.

Atento à saúde, Jair costumava dizer em entrevistas que cuidava bem do corpo, sempre indo a médicos e praticando exercícios - não era raro vê-lo de ponta-cabeça, em uma das mais clássicas e complexas posições da yoga, em camarins e até no palco. Isso mesmo depois dos 70 anos. O cantor deixa também quatro netos (dois de cada filho) e a mulher Clodine.

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